quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Câmbio Flutuante ou Câmbio Administrado?

          Ontem lí matérias no Jornal Valor Econômico escritas por dois ex-ministros da Fazenda, Sr. Delfim Neto e Sr. Bresser Pereira, tratando do mesmo assunto, com olhar próprio: Câmbio Flutuante ou Administrado.

          O Sr. Delfim Neto, descontadas algumas impropriedades aritméticas e o pequeno deslize de chamar a diferença monetária entre importações e exportações de saldo de transações correntes, quando o certo é saldo da balança comercial, discorre sobre a relatividade da flutuação do câmbio  onde corretamente afirma  que a maioria dos países administra o valor de sua moeda em função da capacidade individual de obter saldos comerciais positivos. 
          Já o Sr. Bresser Pereira propôs a criação de um imposto de exportação, que criaria um círculo virtuoso, afirmando que o imposto faria os exportadores obterem saldos comerciais em Reais melhores.
Esta alíquota seria de 20% e o efeito, segundo ele, seria uma compensação entre o valor exportado com o imposto, que provocaria uma desvalorização maior do Real frente a moedas artificialmente fracas, melhorando o valor recebido pelos exportadores nacionais pelas mercadorias.
          Discordo inteiramente do Sr. Bresser Pereira. O valor das commodities,  nossos principais produtos de exportação, não é determinado pelos nossos exportadores, mas pelo mercado internacional.
          Assim, se o mercado paga um valor pelo produto, estabelecido diariamente em bolsas de mercadorias, o I.E. seria debitado do exportador, diminuindo o valor em Reais que ele teria a receber.           Como isto produziria o tal circulo virtuoso que milagrosamente faria o exportador receber mais em Reais do que o valor líquido menor da mercadoria em Dólar?
         Diz ele que os exportadores forçariam a desvalorização da moeda para voltar a receber o mesmo valor que recebiam antes da cobrança do novo imposto.
          Em primeiro lugar, ninguém exporta imposto.  Isto prejudica o comércio internacional e tira competividade do produtor nacional.
          Em segundo lugar, junto com o imposto, vem a burocracia e os controles de cobrança, que somam mais dificuldades na agilidade da exportação.
          Em terceiro lugar, é conhecida a facilidade do Governo em criar impostos e a dificuldade em eliminá-los ou reduzí-los.
          Ninguém acredita que os exportadores conseguirão convencer as autoridades monetárias a deixar a moeda se depreciar proporcionalmente ao aumento do "custo Brasil" gerado artificialmente.
         O governo pode promover uma desvalorização cambial sem o artifício de criar um imposto que justificaria esta desvalorização.
         O que faz a moeda se apreciar é a quantidade dela disponível para as transações correntes.  Se o País só emite moeda após o cálculo final do crescimento do PIB, usando este percentual  para emitir uma quantidade de moeda menor que o permitido, claro que a moeda se aprecia.  Falta dinheiro para atender a todos os fechamentos de câmbio. Se o governo aumenta a liquidez, a moeda se deprecia, atingindo os objetivos de conseguir um valor de moeda mais adequado ao comércio exterior.  O problema é que se errar a dosagem, a inflação dispara.

         O Banco Central faz o acompanhamento, e tem agido corretamente nos momentos apropriados.  O problema são as pressões políticas geradas por aprendizes de feiticeiros que acreditam ter a panacéia que emite dinheiro sem lastro e cambio engessado no valor mais favorável a nós.  A China vem enfrentando problemas crescentes com esta política.  Vai chegar a hora dos ajustes e com certeza, será um processo doloroso para a economia chinesa.
          Aqui, já acendeu a luz vermelha do excesso de liquidez monetária e o Banco Central já fala em iniciar um processo moderado de alta dos juros.  
          A turma que acreditou na facilidade de crédito e prazos para pagamento e se endividou além da capacidade, pode acabar pendurado na trincha.

http://josefernandoesteves.blogspot.com.br/

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