quarta-feira, 27 de março de 2013

As águas de março fechando o verão.

          As enchentes, desbarrancamentos, soterramentos e mortes estão aí de novo.  São as águas de março fechando o verão.  Na poesia de Tom Jobim, as águas de março são promessas de vida no seu coração, mas na nossa sofrida vida real, são promessas de morte e destruição.  
          Como rotineiramente acontece, com as chuvas, construções em áreas de risco desabam, quase sempre com os moradores dentro delas.
          É preciso denunciar que são candidatos a vereadores à caça de eleitores que levam estas pessoas a invadir e ocupar estas áreas, ajudando a demarcar "lotes" e fornecendo tijolos e telhas para os líderes e cabos eleitorais que para lá levam legiões de despossuídos, mas com poder de voto.   Estes, se viram como podem, construindo casebres na pirambeira com madeira e papelão encontrados em lixões.
          Prefeituras e Estados se omitem, pois também disto tiram proveito eleitoral.   Como estas pessoas pobres não aprovam projetos nem tiram licenças de construção, as prefeituras fingem que nada sabem.  Afinal, eles nem pagam IPTU!
          Ligações clandestinas de energia elétrica completam o quadro.  O resto é esgoto a céu aberto, contaminando a todos, adultos e crianças, lata d'água na cabeça, "gatonet", etc.
          Esta legião de pessoas marginalizadas pensam ter conseguido o terreno para sua casa própria, mas na verdade podem estar conseguindo sua própria cova, sem lápide.
          Tudo o que se faz por esta gente tem finalidade eleitoral.  Ninguém está preocupado em resolver o grave problema social destas sub-moradias, levando-os para casas melhores em bairros que disponham de infraestrutura, comércio e serviços, onde os moradores possam trabalhar sem grandes e caros deslocamentos.   O que se faz são casas que racham e desabam, algumas vezes antes de ser entregues, num descaso aliado à corrupção desenfreada que assola este país.  Construções populares em terrenos que submergem nas chuvas é outro grave problema a infernizar a vida destas pessoas removidas de áreas de risco.  Nada acaba resolvido de verdade.  Tudo é paliativo e enganação!
         As festas de inauguração e os discursos são magníficos, com direito à foto de político segurando criancinhas no colo e tudo!   Os problemas começam logo após a entrega das chaves.  Gasta-se muito dinheiro e pouco cimento, formando construções frágeis.  Serviços básicos não são implantados, o lixo não é recolhido, a polícia não aparece, e quando aparece é para aterrorizar moradores.  Os criminosos gostam de se instalar em áreas onde o Estado está ausente.  Grandes conjuntos habitacionais das décadas de 70 e 80 como a Cidade de Deus, Vila Kennedy e outros, foram ocupados pelo tráfico e o crime organizado.  Os candidatos passaram a pedir autorização ao tráfico para fazer campanha nas favelas e nestes conjuntos populares.
          Quantos verões vão passar até que se decida resolver esta questão?  Quantas pessoas ainda vão morrer, vítimas do descaso e do abandono?   As Associações de Moradores precisam se manifestar e cobrar das autoridades soluções para estas famílias, levadas de um lugar para outro, acreditando que vão melhorar e acabam em desgraça, infortúnio e abandono novamente.

http://josefernandoesteves.blogspot.com.br/

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